segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Suicídio


No cimo do edifício, caminhava. A beira aproximar-se-ia prontamente e ele andava continuamente seguro pelas suas inseguranças. Ele caminhava por haver qualquer razão para caminhar. Caminhava, porque acontecia, porque era assim que era, que não havia hipótese sequer de não o ser.  Ele fazia-o, sem consciência do descontrolo, era o que ele queria afinal. Não se conhecia como dono de si. Conhecia-se como mero espectador, sombra, causa, do que não era. E queria ser por se ser assim. Então aproximou-se...

Chegou á beira, nunca parou, seguiu em frente.
 Os seus pés fixaram-se na parede do edifício perpendicular ao chão, distante. E assim seguiu.
O fim estava inalcançável, passo após passo, imagem após imagem. Ele era consequência dos pés assentes no edifício, da concretização que não chegava. Nunca cairia ainda que com o chão à sua frente.
Tudo o que via era a pessoa que não o queria, era a falta que lhe fazia, era a azia de não se ser completo por não ter o que seria. E ele não era. Como pode algo que não se é querer ser algo que não se conhece? Como pode algo que não se é querer ser algo? O objectivo movia-o. A falta de concretização também e continuava. Sofria por amor, amava porque sofria a falta que era, e procurava a pessoa para se completar. A pessoa poderia ou não ser a errada. Que interessa? Nunca saberia afinal, nunca o soube. Os passos não o cansavam. O chão nunca chegava. Ele não percebia. E o chão não falava. E o chão não sentia. Tocar-lhe-ia alguma vez?
O chão chamava-o, o cimo do edifício lembrava-o da possível hipótese do chão que não vinha. Mas ele andava, ele queria, ele matava por o alcançar. Estaria alguma vez a pessoa amada ao seu alcance? Estava disposto a nunca conhecer o chão por não se conhecer sem ele. E então sofria, desvanecia, e nem o cimo do edifício chegara a ser calcado devidamente. Nada se aproveitaria dali....


Estava cansado, não dava em nada, não ia tentar. Deixar de ver de ser, de sentir como lhe era imposto.
O cimo do edifício era bonito, mas não chegava. Teria de ver o para lá da beira, o chão que pouco provável calcaria. Não se mexeu. E se caísse, e se não existisse, e se ficasse preso? E se deixasse de ser? Tinha medo, quedou-se sentado, sozinho no que não era, no que nunca seria ou deixaria de ser se não se levantasse.
E sonhava com a pessoa sentada lá em baixo à sua espera. E esperou até que nada aconteceu. Não dava para desistir assim de si porque nada havia para desistir. Tinha de acontecer, de ser, para se ser realmente, para provar, conhecer a existência que lhe cabia. E a natureza fê-lo andar.

No cimo do edifício, caminhava. A beira aproximar-se-ia prontamente e ele andava continuamente seguro pelas suas inseguranças. Ele caminhava por haver qualquer razão para caminhar. Caminhava, porque acontecia, porque era assim que era, que não havia hipótese sequer de não o ser.  Ele fazia-o, sem consciência do descontrolo, era o que ele queria afinal. Não se conhecia como dono de si. Conhecia-se como mero espectador, sombra, causa, do que não era. E queria ser por se ser assim. Então aproximou-se...