quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Pescado

Cansado de canas de pesca
Quando os peixes não aparecem
No isco está a bendita ideia
Ou falta desta bendita
Quando tudo vai faltando


O tempo escasseia
És sobra de quem pensa
Ou pensa que pensa


Vais-te extinguindo

Pensas, tu pensas.
Pensas tu que pensas! 
Não pescas nada.
Não há que pescar


(Para quê a cana?)


Penso ter pescado
Ainda que não pesque nada
Com esta cana de pesca tão fraca

Solidão

22:39


Silêncio.


22:40


Tic-tac...

Tac

Tac


22:41


Escuridão

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Inquietude Agreste

A família passava agora um momento difícil, um período avassalador avizinhava-se.
A casa estava quieta, as pessoas neste espaço viviam outro. Viviam a rua, local agreste. Família não existia, existiam pessoas em espaço comum, a casa quieta.
No quarto, um corpo em repouso sobre a cama. Era vulgar, pelos menos aos primeiros instantes de observação. Seria-o?
O rapaz olhava o vazio, o vazio da família, o vazio da casa que nem família tinha. Olhava o vazio do irmão, o vazio que era a rua ainda que em casa, na casa cheia de adversidade. Focava a falta ainda que no seio de uma família, no que deveria ser uma vida. No seio do quotidiano a  que sobreviviam diariamente. Dia após dia.
Era então vulgar, esse rapaz da cama. Era tudo, poderia ser tudo. Não o era.
Ele, era consequência da família que não o era, consequência dos destroços da casa quieta que se iam espalhando e evoluindo assim que pelo agreste iam passando.
Ia então o rapaz sendo nada, podendo ter sido algo. Chegando por vezes ,ainda que dúbias, a ser.
Era então produto da humanidade, da sociedade a que chamavam família. Era ele confusão, da confusão de que provinha, à qual conhecem por família, amigos, sociedade.
Era ele um zombie culpa da ingenuidade de criança que o consumia agora apoderando-se dele por completo. Ia então apodrecendo à medida que se conhecia.
Organização, certezas, estabilidade, consciência, entre outras coisas, era o que lhe faltava. Como consegui-las?
E acreditava. O rapaz acreditava na mudança, ou sonhava, pelo menos, possuí-la. Ser dono da verdade e do mundo. E talvez pecasse aí.
Era ele que não o era, era a família que não o era, era a casa quieta que não o era.
Casa apenas, inquietude agreste...

Sonho

O silêncio da noite que me trespassa ao som do meu pensamento...
Estou na cama, quieto, extasiado.
O dia foi monótono. Sinto-me cansado, pouco vivo.
O que quero? O que querem de mim?
Não adormeço embora que pouco acordado para a realidade.

Porquê?

Porque é que isto não acaba? Porque é que sou assim? Porque é que não sou apenas indiferente? Porque é que estou na minha cama a pensar em mim? Porque é que sou inconstante? Porque é que me adoro e quero existir? Porque é que me odeio e quero existir? Porque é que existo? Porque é que sou estúpido? Porque é que me preocupo? Porque é que me estou a lixar? Porque é que gosto de correr se não gosto de ficar cansado? Porque é que estou sempre cansado? Porque é que sou monótono? Porque é que há esperança se não há motivação? Porquê o fracasso? Porquê o triste que sou? Porquê a pessoa mais própria e perfeita ainda que imperfeita que conheço? Porquê a vida? Porquê a morte se vida? Porquê a perfeição se não existe? Porquê o pensamento se não chego a conclusão alguma? Porquê os porquês? Porquê o mal ou o dinheiro, ou a felicidade ou o bem, ou mal ou o amor, ou a pobreza, ou o que existe e o que não existe se não é infinito? Porquê a lembrança se não é mais que uma recordação passada que já nem está assim tão presente? Porquê as palavras, os gestos, os olhares, os sentimentos, se não servem de nada? Porquê os opostos em mim? Porquê a eternidade? Porquê a prisão se não existe a liberdade? Porquê a ausência de sentido? Porquê a falta de respostas? Porque a ânsia de respostas quando sei que não as há? Porquê estar tudo mal se depois está tudo bem? Para que penso se não serve de nada? Para que escrevo? Porquê o respirar, o comer, o beber água? Porque é que gosto e não gosto da existência? Existo!
Porque é que isto não acaba?Porque é que sou assim? Porque é que não sou apenas indiferente? Porque é que estou na minha cama a pensar em mim?
Porquê? Porque sim!